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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Os caminhos do simbolismo,

Átrio.

Os caminhos do simbolismo, sobretudo desde que se entra na estrada mística ou interpretativa, são cheios de ilusões, de devaneios e de fraudes. O profano a eles não sabe em que fundar-se do que lê nos autores da especialidade, de tal modo se misturam, nas obras de quase todos eles, o sentido certo, a fantasia delirante e a fraude consciente e semiconsciente. E isto é extensivo às próprias personalidades dos mistos e dos epoptas antigos e modernos. É fora de dúvida que Cagliostro era um charlatão; não é menos fora de dúvida que era também, e paralelamente, um alto iniciado É fora de dúvida que Madame Blavatzky era um espírito confuso e fraudoso; mas também é fora de dúvida que recebera uma mensagem e uma missão de Superiores Incógnitos Nos nossos dias há um exemplo estrondoso da mesma mistura, não o cito explicitamente por motivos fáceis de compreender.

Estas coisas desorientam os profanos, e ainda mais os sinceros que os curiosos. É natural que o indivíduo, dentro ou fora da O. M, que saiba que o REAA — que nem é e. nem ant. nem ac. — é baseado numa complexa sobreposicão de fraudes, incluindo um diploma falsificado, imediatamente conclua que todo o rito é da mesma ordem e do mesmo valor que esses seus títulos. Esta conclusão seria errónea. Há muito de valia no rito, mas o pior é que o elemento fraudulento se introduz na própria substância da estrutura dos graus e dos rituais, de sorte que só quem tenha conhecimentos superiores aos que o rito inteiro ministra pode, em certo modo, destrinçar o que está certo do que é falso ou errado; e, pela natureza das coisas, os que estão passando através do rito raras vezes terão graus ou conhecimentos que excedam o conteúdo dele e portanto os habilitem a conhecer o caminho.

s.d.

Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio . Fernando Pessoa. (Introdução e organização de Yvette K. Centeno.) Lisboa: Presença, 1985.

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“Átrio”