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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

O Espírito é a Relação Pura;

O Espírito é a Relação Pura; não existe senão em relação ao Objecto. Assim quando dizemos «inconsciência» entendemos uma consciência sem objecto nesse momento. De tal modo a noção de relação a um objecto é parte, não da Consciência Pura mas do Espírito que vive e conhece.

Como, porém, o Espírito se prova ou se conhece como Objecto, segue há 2 espécies de Objectos — o Absoluto e o Relativo, sendo este o Espírito. O Absoluto, a Realidade é o que chamamos o Mundo Exterior. O Relativo é o Espírito, a Consciência Relativa; ora isto, ao dar-se como Objecto, necessariamente se dá como de natureza oposta à Realidade, porque, se assim se não desse, não era o Espírito que se concebia a si próprio, não a simples consciência que concebia a Realidade.

Esta Consciência relativa, ao tomar conhecimento de si mesma, pensa-se como, ao mesmo tempo que consciente de si, consciente da Realidade. A Consciência da Realidade se chama sensação; a de si Pensamento. Como a Realidade é puramente, a sensação dá a verdadeira Realidade, salvo uma definição lógica — se o não for, haverá ilusão ou alucinação; como porém o Espírito é só em Relação à Realidade, não existindo puramente, o Pensamento não dá a Realidade, porém só uma relação com a Realidade.

(A Verdade é a concordância da noção com a Realidade ; a certeza a concordância do pensamento com a sensação).

As ideias abstractas.

Podemos nós conceber o abstracto sem ter uma sensação dele?

1915?

Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968.

 - 197.