No seu feitio de S...
Way of the Serpent.
No seu feitio de S (que, se se considerar fechada, é 8, e, deitado, igualmente serpentino, Infinito), a Serpente inclui dois espaços, que rodeia e transcende. (O primeiro espaço é o mundo inferior, o segundo o mundo superior.) Em outra figuração serpentina — a da cobra em círculo, a boca mordendo a cauda —reproduz-se, não o S, de que a letra é sinal, mas o círculo, símbolo da terra, ou do mundo tal qual o temos. No feitio de S a Serpente evade-se das duas Realidades e desaparece dos Mundos e Universos.
A ilusão é a substância do mundo, e, segundo a Regra, tanto no mundo superior como no mundo inferior, no oculto como no patente. Assim, quando fugimos do mundo inferior, por ele ser ilusório, o mundo superior, onde nos refugiamos, não é menos ilusório; é ilusório de outra, da sua, maneira. Só a Serpente, contornando os infinitos abertos — ou os círculos «incompletos» — dos dois mundos foge à ilusão e conhece o princípio da verdade.
A magia e a alquimia têm ilusões como a ciência e a sexualidade, que são as suas figurações no baixo mundo. Construímos ficções, com a nossa imaginação, tanto na terra como no céu. O mago, que evoca determinado demónio, e vê aparecer materialmente esse demónio, pode crer que esse demónio existe; mas não está provado que ele exista. Existe, porventura, só porque foi criado; e ser criado não é existir, no sentido real da palavra. Existir, no sentido real da palavra, é ser Deus — isto é, ter-se criado a si mesmo; em outras palavras, não depender substancialmente de nada e de ninguém.
A G. O. [Grande Obra] é a libertação, no homem, de Deus, a crucifixão do desfolhável no morto, do perecível no perecido, para que nada pereça. A G. O., em outras palavras, é a criação de Deus.
A magia e a alquimia são caminhos de ilusão. A verdade está só no instinto directo (representado nos símbolos pelos cornos) e na linha directa da sua ascensão ao instinto supremo; no instinto directo, cuja forma activa é a sexualidade, cuja forma intermédia é a imaginação, fantasia, ou criação pelo espírito, cuja forma final é a criação de Deus, a união com Deus, a identificação abstracta e absoluta consigo mesmo, a verdade.
Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética - Fragmentos do espólio . Fernando Pessoa. (Introdução e organização de Yvette K. Centeno.) Lisboa: Presença, 1985.
- 30.“O Caminho da Serpente”



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