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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Ah, bate levemente, mais levemente!

Ah, bate leve, mais levemente!

Eu julguei morto meu coração

Na hora passa, como demente

Ophelia indo para a corrente,

Não sei que incerta minha emoção,

Julguei-te morto, coração triste,

Que nada fazes salvo doer.

Julguei-te morto, e ainda existe

Na tua cinza algum fogo e resiste

Em ti ainda o mal de sofrer.

……

Coração triste, vibras incerto,

Gemes na tua desolação.

Que oásis falso no teu deserto

Não foi esta vaga miragem perto

Da tua inútil consolação!

……

Recolhe, monge definitivo

Ao peito aonde te abrigas

(…)

……

Sê firme, crê que ninguém deseja

O teu asilo ou o teu abrigo.

Em teu deserto nada viceja.

Quem queres tu que te queira...

Coração triste, vive contigo.

……

Abdica e vive de não viver!

……

Pobre criança que queria ter

Em toda a vida canções de amor (…)

26-7-1917

Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.

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