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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

HORA MORTA

HORA MORTA

Lenta e lenta a hora

Por mim dentro soa

(Alma que se ignora!)

Lenta e lenta e lenta,

Lenta e sonolenta

A lua se escoa...

Tudo tão inútil!

Tão como que doente

Tão divinamente

Fútil — ah, tão fútil

Sonho que se sente

De si próprio ausente...

Naufrágio ante o ocaso

Hora de piedade...

Tudo é névoa e acaso

Hora oca e perdida,

Cinza de vivida

(Que Poente me invade?)

Por que lenta ante olha

Lenta em seu som,

Que sinto ignorar?

Por que é que me gela

Meu próprio pensar

Em sonhar amar?...

Que morta esta hora!

Que alma minha chora

Tão perdida e alheia?...

Mar batendo na areia,

Para quê? para quê?

P'ra ser o que se vê

Na alva areia batendo ?

Só isto? Não há

Lâmpada de haver —

— Um — sentido ardendo

Dentro da hora — já

Espuma de morrer?

23-3-1913

Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986.

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