Fernando Pessoa
Oca de conter-me
Oca de conter‑me
Como a hora dói!
Pérfida de ter-me
Como me destrói
O meu ser inerme!
Ó meu ser sombrio!
Ó minha alma tal
Como se pelo rio
Do meu ser igual
Sempre a mim, e frio
De nocturno e meu,
Passasse, cantando,
Uma louca, olhando
Dum barco para o brando
Silêncio do céu.
4-5-1914
Obra Poética e em Prosa. Vol. I. Fernando Pessoa. (Introdução, organização, biobibliografia e notas de António Quadros e Dalila Pereira da Costa.) Porto: Lello, 1986.
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