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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Fernando Pessoa escreveu a fio...

Fernando Pessoa escreveu a fio — a fio, humanamente — aqueles poemas complicados. O Fernando Pessoa que, quando escreve uma quadra, emprega esforços de organização industrial para ver como há-de dispor através dela os dezassete raciocínios que ela é obrigada por lei a conter; que, quando sente qualquer coisa, se pôe logo a cortá-la com uma tesoura de cinco críticos, a embrulhar-se em porque é que o segundo verso contém um adjectivo biforme e em ver como é que não sendo «mas» bom português naquela altura, vai conseguir que «senão» tenha uma sílaba só.

Este homem, tão inutilmente bem dotado, vivendo constantemente na parabulia da sua complexidade, teve naquele momento — também ele — a sua libertação. Se algum dia se esquecer ao ponto de publicar qualquer livro, se o livro for de versos, e vierem datados os pequenos poemas, ver-se-á que há qualquer coisa de diferente nos que têm datas posteriores a 8 de Março de 1914.

s.d.

Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha.) Lisboa: Presença,

1994.

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