A Inocência Perdida
A Inocência Perdida
Tinha um campo alegre,
Mas no ardor da febre
Devastei-o, e então
Semeei-lhe amores
E nasceram flores
De desilusão,
Tinha um barco lindo que pela água ia,
Como nuvem branda pelo brando céu
Carreguei-o d'oiro que o labor trazia
E soçobrou logo que vogar queria
E eu fiquei nas ondas sem o barco meu.
A jarra preciosa está partida
E nada valem os fragmentos seus;
A imagem do templo está caída;
Partiu-se. Era de barro. Os seus crentes,
perdeu-os.
Junta os fragmentos da jarra divina
E a jarra não fazem;
Volta ao altar a imagem
Já não é o que foi.
Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.
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