Alberto Caeiro é, cremos, o maior poeta do século vinte,
Alberto Caeiro é, cremos, o maior poeta do século vinte, porque é o mais completo subversor de todas as sensibilidades diversamente conhecidas, e de todas as fórmulas intelectuais variamente aceites. Viveu e passou obscuro e desconhecido. É esse (dizem os ocultistas) o distintivo (sinal) dos Mestres.
Os próprios gregos da grande Grécia, criadores do Objectivismo, não atingiram o Objectivismo Transcendente do assombroso português, a quem a Fama nada deu, porque ele nada lhe pediu; nem, se lhe pedisse, ela, (hoje tão injustamente pródiga) saberia que dar-lhe.
A nossa gratidão vai para os srs. António Caeiro da Silva e Júlio Manuel Caeiro, a cuja cortesia devemos a cedência destes poemas. A obra do Mestre compõe-se, além destes, que formam o seu único livro inteiro, de «outros poemas e fragmentos». Confiamos em que os seus detentores não tardarão em dá-la à publicidade, se não à celebridade, porque essa só a obtêm (hoje), parece, os que a não merecem.
A obra de Caeiro é mister que seja lida com uma atenção nova. Tudo é novo nela. Nem a substância intelectual, nem a arte das imagens, nem a própria figuração verbal têm precedentes ou alianças. Só a forma se ressente da [...] e da malícia da sua época. Os inovadores, por grandes que sejam, não podem ser tudo. E as grandes obras, dos poetas, são da sua época só pelos seus defeitos.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 382.Prefácio a Caeiro. António Mora?