O Sr. Afonso Costa não entrou na história por uma porta falsa
Panfleto
O Sr. Af[onso] C[osta] não entrou na história por uma porta falsa. O governo provisório não pode assim ser designado. Mas entrou por porta legítima com chave falsa. A esta metáfora [...] a justiça, quasi agradecida. O grande oposicionista parlamentar encontrou no governo o seu Waterloo. Os canhões da sua enérgica eloquência ficam encravados na lama da política construtiva e a grandeza da sua inteligência falha-lhe por razões mais desculpáveis do que [...] Resta-lhe a Santa Helena do seu cartório de advogado onde pode, mais agradavelmente do que o original da metáfora, passar a grande homem aposentado, aureolado pelo afastamento e olhando, com a pose que melhor lhe parecer, por sobre os mares de (...) em direcção às terras da popularidade, donde a ambição o exilara.
[...]'s occupation's gone. Fora da política oposicionista, o Sr. Dr. Af[onso] C[osta] era apenas o Sr. Dr. Af[onso] C[osta], ilustre deputado republicano e lente longínquo da Universidade de Coimbra. (...) O [...] que tem penas [?] pode, graças à sugestão, levar uma mão [?] longa [?] em certos terrenos, mas nem o leva direito, nem o leva a toda a parte. Chegado ao ponto de subir a escada da política construtiva, vai mal ao coxo a sugestão de o não ser. Os degraus são muito altos e para dar pulo de um ao outro é preciso mais musculatura nos membros inferiores. Isto é exageradamente metafórico, mas hiperbolicamente certo. A base disto é verdadeira. Se a frase é estilo [?] a mim se deve. Fala a verdade e eu redijo.
Argumentei sempre, a sós comigo, isto: que um parlamentar tão brilhante como o Sr. Af[onso] C[osta] ou seria um extraordinário estadista, ou uma nulidade em construir [?] — Encarregou-se o destino — felizmente — de eliminar a primeira hipótese. O Sr. Afonso Costa pertence, p oliticamente, ao passado; [... ] — Trabalha lutando pela República. Trabalha mais ainda, deixando de trabalhar. Foi passando, [. . .], a sua presença nas fileiras combativas. A sua ausência é fecunda. [...] Provocador — foi-o com a liberdade. Deve agora ser [...]
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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