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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Heia o quê? Heia porquê? Heia p’ra onde?

Heia o quê? Heia porquê? Heia p’ra onde?

Heia até onde?

Heia p’ra onde, corcel suposto?

Heia p’ra onde, comboio imaginário?

Heia p’ra onde, seta, pressa, velocidade

Todas só eu a penar por elas

Todas só eu a não tê-las por todos os meus nervos fora.

Heia p’ra onde, se não há onde nem como?

Heia p’ra onde, se estou sempre onde estou e nunca adiante

Nunca adiante, nem sequer atrás,

Mas sempre fatalissimamente no lugar do meu corpo,

Humanissimamente no ponto-pensar da minha alma,

Sempre o mesmo átomo indivisível da personalidade divina?

Heia p’ra onde ó tristeza de não realizar o que quero?

Heia p’ra onde, para quê, o quê, sem o quê?

Heia, heia, heia, mas ó minha incerteza, p’ra onde?

Não escrever versos, versos, versos a respeito do ferro,

Mas ver, ter, ser o ferro e ser isso os meus versos,

Versos — ferro — versos, círculo material-psíquico-eu

(quando parte o último comboio?)

s.d.

«Saudação a Walt Whitman». Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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