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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

Tantos poemas contemporâneos!

Tantos poemas contemporâneos!

Tantos poetas absolutamente de hoje —

Interessante tudo, interessantes todos...

Ah, mas é tudo quase...

É tudo vestíbulo

E tudo só para escrever.

Nem arte,

Nem ciência

Nem verdadeira nostalgia...

Este olhou bem o silêncio desse cipreste...

Esse viu bem o poente por trás do cipreste...

Este reparou bem na emoção que tudo isso daria...

Mas depois?...

Ah, meus poetas, meus poemas — e depois?

O pior é sempre o depois...

É que para dizer é preciso pensar —

Pensar com o segundo pensamento —

E vocês meus velhos, poetas e poemas,

Pensam só com a rapidez primária da asneira — é (...) e da pena —

Mais vale o clássico seguro.

Mais vale o soneto contente.

Mais vale qualquer coisa, ainda que má,

Que os arredores inconstruídos duma qualquer coisa boa...

"Tenho a minha alma!"

Não, não tens: tens a sensação dela.

Cuidado com a sensação.

Muitas vezes é dos outros,

E muitas vezes é nossa

Só pelo acidente estonteado de a sentirmos...

1-11-1934

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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