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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

(Depois do amor — na treva)

                (Depois do amor — na treva)

Eis-me enfim só, oh desejado horror

Eis-me enfim ante ti, oh Universo!

Eis-me aqui, lama e (...) mistério,

Excluído de ti, o eterno expulso

Que não pedia a vida. Eis-me aqui.

Pudesse eu pôr no seu desmedimento

O ódio (...)       e afrontar-vos

Com a expressão desse ódio, oh silêncios,

Oh noites ao pensar! eu morreria

De haver interpretado em tanto horror

Um mor horror que interpretar não pode

O que há-de ser palavra ou pensamento.

Eis-me aqui, oh abismo explicado!

Eis-me aqui o maior dos seres todos,

Quebrando aos pés do pensamento forte

A cruz de Cristo e as fórmulas mortais

[...]

Eis-me aqui!

O que há para mim senão vacuidade

No mundo (...), o que me destinastes?

O vazio? O silêncio? A escuridão?

Desses-me o instinto deles, não a plena

Torturação da luz.

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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