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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Nesta vida, em que sou meu sono,

Nesta vida, em que sou meu sono,

Não sou meu dono,

Quem sou é quem me ignoro e vive

Através desta névoa que sou eu

Todas as vidas que eu outrora tive,

Numa só vida.

Mar sou; baixo marulho ao alto rujo,

Mas minha cor vem do meu alto céu,

E só me encontro quando de mim fujo.

Quem quando eu era infante me guiava

Senão a vera alma que em mim estava?

Atada pelos braços corporais,

Não podia ser mais.

Mas, certo, um gesto, olhar ou esquecimento

Também, aos olhos de quem bem olhou,

A Presença Real sob o disfarce

Da minha alma presente sem intento.

11-12-1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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