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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Teus olhos contas escuras,

MOTE

Teus olhos contas escuras,

São duas, Avé Marias

Dum rosário d’amarguras

Que eu rezo todos os dias.

GLOSA

Quando a dor me amargurar,

Quando sentir penas duras,

Só me podem consolar

Teus olhos, contas escuras.

Deles só brotam amores;

Não há sombras d’ironias;

Esses olhos sedutores

São duas Avé Marias.

Mas se a ira os vem turvar

Fazem-me sofrer torturas

E as contas todas rezar

Dum rosário d’amarguras.

Ou se os alaga a aflição

Peço p’ra ti alegrias

Numa fervente oração

Que rezo todos os dias!

31-3-1902

Fotobibliografia. Fernando Pessoa. (Organização, introdução e notas de João Rui de Sousa. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1988.

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1ª publ. in O Imparcial. Lisboa: 18-7-1902.