É que, ignorantes inteiramente da sociologia,
Considerações pós-revolucionárias
É que, ignorantes inteiramente da sociologia, estranhos de todo à intenção social das coisas — os (...) do Correio da Manhã não sabem o que é uma revolução. Julgam que é um movimento guerreiro feito por um certo número de indivíduos, quando afinal a revolução é feita por uma sociedade, por intermédio de, e inconsciente delegação em um certo número de indivíduos. É uma divisão do trabalho social.
Uma revolução é ostensivamente uma derrubação violenta de um regime, feita por alguns — poucos ou muitos — indivíduos.
A revolução é uma expressão de opinião. É uma expressão violenta. A expressão violenta da opinião de vários indivíduos é um motim [?]; quando se trata, porém, da expressão de opinião de uma sociedade inteira é uma revolução. Antes, a opinião de um corpo social socialmente pensando.
Um facto mínimo pode parecer às vezes dar vitória a um lado. Mas é que nesse facto, para esse facto, convergiram todas as causas sociais que fizeram essa revolta; nele e por ele se manifestaram. A causação social é [...], indestrinçavelmente complexa; mas o sociólogo que não sabe como as coisas se dão [?], sabe completamente [?] o que elas significam.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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