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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

III -  Somos meninos de uma primavera

III

Somos meninos de uma primavera

De que alguém fez tijolos. Quando cismo

Tiro da cigarreira um misticismo

Que acendo e fumo como se o esquecera.

 

No teu ar de dormir nessa cadeira,

(Reparo agora, feito o exorcismo,

Que o terceiro soneto ergue do abismo)

És sempre a mesma, anónima — terceira...

 

Ó grande mar atlântico, desculpa!

Cuspi à tua beira três sonetos.

Sim, mas cuspi-os sobre a minha culpa.

 

Mulher, amor, [alcova?] — sois tercetos!.

Só vós ó mar e céu nos libertais,

Que qualquer trapo incógnito franjais

Sossego? Outrora? Ora adeus! Foi feita

No cárcere a Marília de Dirceu.

De realmente meu só tenho eu.

 

Pudesse eu pôr um dique ao que em mim espreita,

(No seu perfil de pálida imperfeita,

Recorte morto contra um vivo céu,

9-9-1932

"Costa do Sol". Álvaro de Campos - Livro de Versos. Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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