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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Alberto Caeiro

Gozo os campos sem reparar para eles.

Gozo os campos sem reparar para eles.

Perguntas-me porque os gozo.

Porque os gozo, respondo.

Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente

E ter uma noção do seu perfume nas nossas ideias mais apagadas.

Quando reparo, não gozo: vejo.

Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,

Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos —

À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;

E alguma coisa dos ruídos indistintos das coisas a existir,

E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas órbitas,

E só um resto de vida ouve.

20-4-1919

“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

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