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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

ODE MARCIAL [a]

ODE MARCIAL

Clarins na noite,

Clarins na noite,

Clarins subitamente distintos na noite...

(É de cavalgada, de cavalgada, de cavalgada o ruído longínquo?)

O que é [que] estremece de diverso pela erva e nas almas?

O que é que se vai alterar e já lá longe se altera —

Na distância, no futuro, na angústia — não se sabe onde — ?

Clarins na noite,

Clarins... na noite,

Clari-i-i-i-ins.....

É de cavalgada,

É de cavalgada, de cavalgada,

É de cavalgada, de cavalgada, de cavalgada

O ruído, ruído, ruído agora já nítido.

Vejo-as no coração e no horror que há em mim:

Valquírias, bruxas, amazonas do assombro...

São um grande sonho — mistério de sombras pegadas que mexe na noite.

Vêm em cavalgada, e a terra estremece duas vezes,

E o coração como a terra estremece duas vezes também.

Vêm do fundo do mundo,

Vêm do abismo das coisas,

Vêm de onde partem as leis que governam tudo;

Vêm de onde a injustiça derrama-se sobre os seres,

Vêm de onde se vê que é inútil amar e querer,

E só a guerra e o mal são o dentro e fora do mundo.

Hela-hô-hôôô...helahô-hôôôôô.......

s.d.

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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