A obra de Caeiro divide-se, não só no livro, mas na verdade, em três partes…
A obra de Caeiro divide-se, não só no livro, mas na verdade, em três partes - «O Guardador de Rebanhos», «O Pastor Amoroso» e aquela terceira parte a que Ricardo Reis pôs o nome autêntico de «Poemas Inconjuntos». «O Pastor Amoroso» é um interlúdio inútil, mas os poucos poemas que o compõem são dos grandes poemas de amor do mundo, porque são poemas de amor por serem de amor, e não por serem poemas. O poeta amou porque amou, e não porque há amor, e foi isso mesmo que disse.
«O Guardador de Rebanhos» é a vida mental de Caeiro até a diligência levantar no alto da estrada. Os «Poemas Inconjuntos» são já a descida. Distingo assim, para mim próprio: há poemas dos «P[oemas] I[nconjuntos]» que eu imagino que talvez pudesse ter escrito. Não há giro da minha imaginação que me faça passar pelo sonho de poder ter escrito qualquer poema de «O G[uardador] de Rebanhos».
Nos poemas inconjuntos há cansaço, e portanto diferença. Caeiro é Caeiro, mas Caeiro doente. Nem sempre doente, mas às vezes doente. Idêntico mas um pouco alheado. Isto aplica-se sobretudo aos poemas médios dessa terceira parte da sua obra.
Pessoa por Conhecer - Textos para um Novo Mapa . Teresa Rita Lopes. Lisboa: Estampa, 1990.
- 367.«Notas para a recordação do meu mestre Caeiro»