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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Porque, ó Sagrado, sobre a minha vida

Porque, ó Sagrado, sobre a minha vida

Derramaste o teu verbo?

Porque há-de a minha partida

A coroa de espinhos da verdade [?]

Antes eu era sábio sem cuidados,

Ouvia, à tarde finda, entrar o gado

E o campo era solene e primitivo.

Hoje que da verdade sou o escravo

Só no meu ser tenho[,] de a ter[,] o travo,

Estou exilado aqui e morto vivo.

Maldito o dia em que pedi a ciência!

Mais maldito o que a deu porque me a deste!

Que é feito dessa minha inconsciência

Que a consciência, como um traje, veste?

Hoje sei quase tudo e fiquei triste...

Porque me deste o que pedi, ó Santo?

Sei a verdade, enfim, do Ser que existe.

Prouvera a Deus que eu não soubesse tanto!

1932

Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).

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