Fernando Pessoa
Quando já nada nos resta
Quando já nada nos resta
É que o mudo sol é bom.
O silêncio da floresta
É de muitos sons sem som.
Basta a brisa pra sorriso
Entardecer é quem esquece.
Dá nas folhas o impreciso,
E mais que o ramo estremece.
Ter tido esperança fala
Como quem conta a cantar.
Quando a floresta se cala
Fica a floresta a falar.
9-8-1932
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1955 (imp. 1990).
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