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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Alberto Caeiro

Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.

Primeiro prenúncio de trovoada de depois de amanhã.

As primeiras nuvens, brancas, pairam baixas no céu mortiço

>Da trovoada de depois de amanhã?

Tenho a certeza, mas a certeza é mentira.

Ter certeza é não estar vendo.

Depois de amanhã não há.

O que há é isto:

Um céu azul, um pouco baço, umas nuvens brancas no horizonte,

Com um retoque de sujo em baixo como se viesse negro depois,

Isto é o que hoje é,

E, como hoje por enquanto é tudo, isto é tudo.

Quem sabe se eu estarei morto depois de amanhã?

Se eu estiver morto depois de amanhã, a trovoada de depois de amanhã

Será outra trovoada do que seria se eu não tivesse morrido.

Bem sei que a trovoada não cai da minha vista,

Mas se eu não estiver no mundo,

O mundo será diferente —

Haverá eu a menos —

E a trovoada cairá num mundo diferente e não será a mesma trovoada.

10-7-1930

“Poemas Inconjuntos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

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