Fernando Pessoa
O rio que passa dura
O rio que passa dura
Nas ondas que há em passar,
E cada onda figura
O instante de um lugar.
Pode ser que o rio siga,
Mas a onda que passou
É outra quando prossiga.
Não continua: durou.
Qual é o ser que subsiste
Sob estas formas de estar,
A onda que não existe,
O rio que é só passar?
Não sei, e o meu pensamento
Também não sabe se é,
Como a onda o seu momento
Como o rio [?]
26-8-1930
Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).
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