[Cartas a João Gaspar Simões - 22 Out. 1932]
Apartado 147.
Lisboa, 22 de Outubro de 1932.
Meu querido Gaspar Simões:
Muito obrigado pelas suas duas cartas, a última de 6 de Outubro.
Tem sido, de facto, a falta de saúde, ou pelo menos, um pedaço de falta de saúde, que me tem levado a demorar tanto o escrever-lhe de novo e o enviar-lhe a colaboração para a Presença. Não sei se lhe disse: tive uma espécie de intoxicação geral, à qual se sobrepunha e sobrepõe, ante et post (pois que em parte provocou a intensidade da intoxicação, e em parte se agravou com essa intensidade), o que, se não é uma neurastenia aguda, lhe copiou com êxito as feições e as maneiras. Tem sido, mais particularmente, a acção desta última inacção que me tem tido preso – já de mim tão naturalmente idóneo para as clausuras da vontade.
Não tive tempo de completar a Nota para o Casais Monteiro; espero, porém, completá-la em breve, e v. poderá publicá-la no outro número da Presença. Está claro que era neste que deveria vir, e, se não fosse a minha incompetência presente para fazer qualquer coisa, neste poderia vir, pois a Nota nada tem de difícil na redacção. Como, porém, outra colaboração é uma questão de simplesmente copiá-la (e até isto me tem sido mentalmente difícil), aí lhe envio um pequeno poema. Espero que chegue a tempo para este número da revista.
Sempre e muito seu,
Fernando Pessoa.
Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982).
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