[Cartas a João Gaspar Simões - 3 Fev. 1933]
Apartado 147.
Lisboa, 3 de Fevereiro de 1933.
Meu querido Gaspar Simões:
Muito obrigado pela sua carta de 25 de Janeiro. Compreendo perfeitamente a sua hesitação sobre se o seu livro teria sido recebido, e no devido tempo. Foi, e a culpa é minha em lho não ter agradecido mais cedo. O facto é, porém, que lhe queria escrever uma carta crítica e pormenorizada, mais ou menos como lhe escrevi a propósito do seu livro anterior. Mas nem o que ainda resta e se arrasta do meu estado neurasténico me tornou isto fácil, nem tive, como da outra vez, a intuição de ao menos agradecer sumariamente o envio do livro, para depois, e com vagar, me referir a ele como queria e devia.
Não é esta, ainda, a carta de crítica. Mas posso desde já dizer-lhe que muito apreciei o Elói. Não só me agradou em conjunto, mas alguns pormenores, começando pela abertura, me agradaram particularmente. Depois lho direi como quero e devo. Por agora, desejo somente agradecer-lhe, enfim, o livro, e pedir-lhe desculpa da demora em escrever-lhe.
O exemplar para o António Botto veio junto com o meu – junto no mesmo correio, não no mesmo invólucro. No mesmo dia lho deixei no Café Arcada. Se esse exemplar, portanto, não foi recebido pelo António Botto, é que no Arcada lho não entregaram. O certo é que chegou, que o recebi e que o deixei para ele. Desse lapso que não houve não culpe portanto o editor.
Quando sai a próxima Presença? Até quando posso enviar colaboração? É claro que a posso enviar sempre; há sempre, pelo menos, um pequeno poema, para ser alguma coisa e não deixar de colaborar. Enviar-lho-ia hoje mesmo, se aqui (no escritório onde estou escrevendo) tivesse qualquer poema ou lembrança dele disponível.
Que notícias há do Hourcade?
Sempre e muito seu,
Fernando Pessoa.
Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982).
- 95.