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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

O horror metafísico de Outrem!

O horror metafísico de Outrem!

O pavor de uma consciência alheia,

Como um deus a espreitar-me! Quem me dera

Ser a única consciência animal

Para não ter olhares sobre mim!

Dos olhos de cada um me fita, vivo,

O mistério de ver; e o horror de verem-me

Abisma-me.

Não posso conceber-me outro, ou pensar

Que a consciência que de mim é gémea

Possa ter outra forma, e um conteúdo

Diferentemente diferente. Só vejo

Homens, bichos, as feras e as aves,

Horrivelmente vivas e fitando.

Sou como um Deus supremo que se houvesse

Reconhecido em mim o único,

E a cujo olhar inúmero se abeira

O horror de mais inúmeros olhares.

Ah, se em mim se reflecte o transcendente

Brilho além de Deus!

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

 - 96.

1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.120).