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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Ah não poder tirar de mim os olhos,

Ah não poder tirar de mim os olhos,

Os olhos da minh'alma da minh'alma

(Disso a que alma eu chamo)!

Só sei de duas cousas, nelas absorto

Profundamente: eu e o universo,

O universo e o mistério e eu sentindo

O universo e o mistério, apagados

Humanidade, vida, amor, riqueza.

Oh vulgar, oh feliz! Quem sonha mais

Eu ou tu? Tu que vives inconsciente ,

Ignorando este horror que é existir,

Ser perante o pensamento

Que o não resolve em compreensões, tu

Ou eu, que, analisando e discorrendo

E penetrando (...) nas essências,

Cada vez sinto mais desordenado

Meu pensamento louco e sucumbido,

Cada vez sinto mais como se eu,

Sonhando menos, consciência alerta,

Fosse apenas sonhando mais profundo...

E esta ideia nascida do cansaço

E confusão do meu pensar, consigo

Traz horrores inúmeros, porque traz

Matéria nova para o mistério eterno,

Matéria metafísica em que eu

Me perco a analisar.

Pensar fundo é sentir o desdobrar

Do mistério, ver cada pensamento

Resolver em milhões de incompreensões,

Elementos (...)

Oh tortura, tortura, longa tortura!

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva . Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

 - 12.

1ª versão inc.:

“Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos . Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.86).