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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

O pensar, e o pensar sempre

O pensar, e o pensar sempre

Dá-me uma forma íntima e (...)

De sentir, que me torna desumano.

Já irmanar não posso o sentimento

Com o sentimento doutros, misantropo

Inevitavelmente e em minha essência.

Toda a alegria me gela, me faz ódio,

Toda a tristeza alheia me aborrece,

Absorto eu na minha, maior muito

Que outras. E a alegria faz-me odiar

Porque eu alegre já não posso ser,

E, conquanto o não queira assim sentir

Sinto em mim que a minha alma não tolera

Que seja alguém do que ela mais feliz.

O rir insulta-me por existir,

Que eu sinto que não quero que alguém ria

Enquanto eu não puder! Se acaso tento

Sentir, querer, só quero incoerências

De indefinida aspiração imensa,

Que mesmo no seu sonho é desmedida.

E às vezes com pensar sinto crescer

Em mim loucuras de (...)

E impulsos que me transem de terror

Mas são apenas   (...)   e passam.

Mais de sempre é em mim (quando não penso

E estou no pensamento obscurecido)

Uma vaga e (...) aspiração

Quiescente, febril e dolorosa

Nascida do   (...)   pensamento

E acompanhando-o comovidamente

Nas inércias obscuras do meu ser.

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva . Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

 - 13.

1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos . Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.117).