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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Ao ouvi-los rir

                                Ao ouvi-los rir

Parece-me ouvir chasquear de mim

Um demónio horroroso e transcendente,

E simbólico de algo do mistério

Ou do universo. E vendo-os todos como

Que intérpretes inconscientes desse

Torturador obscuro, tomo ódio

A esta ridente humanidade toda,

Folgo de lhes pensar torturas n'alma,

Com que perdessem esse riso e até

As lágrimas na dor e no pavor.

Acordo ao conceber quanto eu odeio

Mais do que isto, mais que a humanidade,

Mas o universo todo, o transcendente

Conteúdo horrendo do meu pensamento,

Com um ódio adaptado a essa grandeza,

E uma impotência de mostrar esse ódio

Que essa grandeza, aumentando-o, tolhe.

s.d.

Fausto - Tragédia Subjectiva . Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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