O IMPERIALISMO PORTUGUÊS
O IMPERIALISMO PORTUGUÊS
Assim como o primeiro dever de um homem feito - em relação tanto a si próprio e no seu interesse, como em relação aos outros e no interesse da sua utilidade social - é determinar a que carreira ou modo de vida melhor se adapta o seu tempera mento, ou, em outras palavras, fazer a sua Vontade perguntar à sua Inteligência: “Que vim eu ao mundo para fazer?”; assim é o primeiro dever de uma nação constituída - tanto em relação a si própria, como em relação aos seus deveres para com a civilização a que pertence, e a humanidade em geral determinar a que função civilizacional melhor se adapta a feição natural do seu psiquismo colectivo, ou, em outros termos, fazer as suas classes políticas perguntar às suas classes filosóficas: “Para que existo eu como nação? Que fim existo para servir na história da civilização e do mundo (humanidade e civilização)?”
É uma das sábias disposições da Natureza, e do seu mentor abstracto, cujo nome melhor é ainda o nome antigo de Destino, que o homem, ente político, servindo os interesses expansivos do seu temperamento, sirva, concomitante e interpenetradamente, os interesses da sociedade a que pertence, sendo assim altruísta por egoísmo e social por ser individual. Do mesmo modo e pela mesma disposição da natureza, a Nação, animal civilizacional, servindo os interesses expansivos da sua [...] colectiva, serve, concomitante e interpenetradamente, os interesses do conjunto civilizacional, a que pertence, sendo assim humana por ser nacional, e [...]
E assim como o homem físico, tendo a sua base nas células de que o corpo se compõe, e que são a substância biótica do seu corpo, tem, para chegar ao conjunto orgânico que é na verdade o seu corpo, que passar pelos órgãos, que são [...]; [...]
Como o homem psíquico, tendo a sua base na emoção, que é a substância consciente do seu espírito, tem, para chegar à vontade que é o contorno do seu corpo psíquico e o fim da sua pessoa mental, que passar pela inteligência; [...]
Assim a humanidade, tendo a sua base no indivíduo, que é a substância socialmente inconsciente do seu todo, tem para chegar à civilização, que [...] passar pela nação, que é o órgão da civilização, a Inteligência e consciência [?] da humanidade.
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
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