Perguntar-se-á, porém: dado mesmo tudo isso, o partido republicano,
República
Perguntar-se-á, porém: dado mesmo tudo isso, o partido republicano, chegado ao poder, dará melhor que os partidos monárquicos? Ou continuá-los-á atenuada, posto que realmente? Não é difícil a resposta. Porque, conforme provámos, o partido republicano é um partido nacional, a sua administração será patriótica e (...) Porque, conforme provámos, o p. r. é um partido são (na sua maior parte, na sua parte representativa) esperamos dele uma administração sã. E quando se houver provado prático fazendo com êxito a transformação das instituições, diremos que, porque o fez, obteve a 3ª qualidade que ainda de certo modo lhe falta: que é um partido prático e apto a governar. As nódoas que ainda tem, duvidosos caracteres que ainda se acham nele — impõe-nos o raciocínio a que acreditemos em que, sendo essencialmente em si o partido republicano um partido nacional e são, na sua administração fará a última revolução — a revolução dentro de si, afastando do seu seio, com os devidos agradecimentos pelo seu anterior concurso, sem violência mas sem transigências, os indesejáveis que ainda lhe são nódoas e gente parcamente representativa. Exactamente esse saneamento eliminará a representatividade dessa gente que hoje, no estado ainda não de todo puro do partido, de certo modo representa alguma coisa; essa alguma coisa sendo o não estar o partido ainda puro em absoluto.
Todo o raciocínio, quando tem disposto, contém em si a resposta a todas as objecções que se lhe possam fazer.
Resta porém desfazer uma — e a última objecção. É a que nos pergunta se a República está adaptada a Portugal, se, corno instituições, as inst[ituições] republicanas nos convêm.
Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.
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