O SEBASTIANISMO - INTRODUÇÃO
O SEBASTIANISMO - INTRODUÇÃO
Princípios essenciais:
1. Onde há forma há alma. A forma é o que torna tal coisa tal coisa. Assim uma árvore tem forma. Uma batalha, que é tal, e não tal outra, tem forma também. Quanto maior é a coisa, mais a sua forma lhe é própria. Não se pode restituir a uma batalha a sua forma. Uma vez dada, ela não se repete. Os acontecimentos têm alma. Os acontecimentos são homens.
2. A metempsicose. A alma é imortal e, se desaparece, torna a aparecer onde é evocada através da sua forma. Assim, morto D. Sebastião, o corpo, se conseguirmos evocar qualquer coisa em nós que se assemelha à forma do esforço de D. Sebastião, ipso facto o teremos evocado e a alma dela entrará para a forma que evocámos. Por isso quando houverdes criado uma coisa cuja forma seja idêntica à do pensamento de D. Sebastião, D. Sebastião terá regressado, mas não só regressado modo dizendo, mas na sua realidade e presença concreta, posto que não fisicamente pessoal. Um acontecimento é um homem, ou um espírito sob forma impessoal.
3. A profecia é a visão dos acontecimentos na sua forma corpórea. É o contrário do que acima expomos. Uma batalha que se vai dar aparece com uma forma humana ou outra antes de se dar. Porque pode ter uma forma humana, porque realmente a tem.
4. A profecia pode às vezes (ou sempre) aplicar-se a várias coisas. Isto não invalida a profecia. É que vários acontecimentos, são um acontecimento só, isto é, um só ente sob várias formas. Assim se uma profecia representar possivelmente D. Sebastião, D. João IV, D. Pedro IV (ou V) e a República e mais coisas, isto não quer dizer que a profecia seja falsa. Quer dizer que toda a profecia é de uma coisa sob várias formas, e ela exprime o essencial que atravessa todas essas formas.
5. Com D. Sebastião morreu a grandeza da Pátria. Se a Pátria tornar a ser grande, voltará, ipso facto, D. Sebastião, não só simbolicamente falando, mas realmente.
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
- 65.