O SEBASTIANISMO - SUA RENASCENÇA
O SEBASTIANISMO — SUA RENASCENÇA
1. Uma religião é um fenómeno ligador de almas, porque é qualquer coisa que elas têm de comum; é um fenómeno imaginativo; é um fenómeno de autoridade. É, assim, um critério moral tanto como metafísico, estético tanto como político.
2. Uma religião é socialmente útil quando se aproxima de preencher três condições: (1) ser nacional, isto é, diferente das religiões dos outros países, porque assim apoia-se no patriotismo, o mais radical dos sentimentos sociais, e ao mesmo tempo intensifica-o; (2) ser popular, isto é, quanto possível saída não se sabe donde, formada não se sabe como; (3) ser quanto possível susceptível de evolução e adaptação.
Isto ao contrário da arte: A arte é (1) internacional; (2) é antipopular; (3) é insusceptível de progresso salvo por substituição (ex.).
3. Em Portugal haverá qualquer fenómeno religioso sobre o qual possamos assentar as bases de uma vida nova? Toda a pretensão de uma Renascença na vida nacional que não assente em bases religiosas cairá, pela base, que, a não ser essa, não será nenhuma.
Há primeiro o Catolicismo. Mas o catolicismo principia por ser estrangeiro. Por isso une falsamente o povo, une-o: (1) a um potentado temporal estrangeiro; (2) une-o a outros povos, isto é, desnacionaliza-o; (3) […]
Além disso o catolicismo tem fortes elementos antipopulares; a única coisa que ele tem de popular é ser a crença tradicional do povo, mais nada. É, de resto, um sistema complexo de metafísica, mais hábil do que decente religiosamente, de uma moral forçada e doentia, e de uma estética superficial, ao passo que a estética religiosa deve buscar afectar o espírito (para a estética exterior, uma feira basta).
O catolicismo, mais, é dificilmente susceptível de evolução.
Temos nós outro fenómeno religioso?
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
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