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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Havia, finalmente, aquela teoria cujo defensor mais compenetrado,

Da Ditadura à República ou Considerações pós-revolucionárias

Havia, finalmente, aquela teoria cujo defensor mais compenetrado, coerente e de todo lógico era o grande jornalista Homem Cristo. Essa teoria — postas de parte as acidentais e inessenciais incoerências de expressão e (...) jornalísticas (...) — era, em essência, a seguinte: dominar o país por uma reacção forte e (...) militar e, designadamente, disciplinadora, eliminando, por meios extremos sendo preciso, os elementos discordantes [?] do partido republicano; continuar isto até que o partido republicano combatesse apenas pela palavra e não incitasse a mais do que ao voto contra a monarquia; manter rigorosamente, com honestidade, energia e luta inflexíveis, esta disciplina, até que, por votação parlamentar, se proclamasse a república. Então, ou se continuaria a disciplina militariforme [?], sendo preciso, ou se [...] da nação, já que ela [estaria] disciplinada e, mesmo porque isto provava, democratizada e apta para a República.

Esta teoria — (...) — punha-a Homem Cristo em prática propagandista.

Para isto, porém, faltavam os homens. Havia bandalhos, débeis e palacianos, e, para a executar, eram essencialmente precisos caracteres essencialmente honestos, fortes e justos — mais justos do que monárquicos ou religiosos. O próprio homem que, pela sua honestidade pessoal e imediata e pela sua tenacidade mais apto era para o cargo era, não só pela sua instabilidade mental, mas também por não ser de todo honesto, nem de todo fino, nem de todo independente, inepto. O facto dessa inadaptação prova-o o miserável fim da sua ditadura. Só falha quem deve falhar. O homem previsto para preencher (...) de H[omem] C[risto] devia saber não falhar, desconhecer a derrota. Gomo o podia Franco [?] fazer? Não tinha, nem intelectual nem moralmente, bases para tal cargo. Essa energia e [...] demonstram que era apenas uma energia vã, numa vitória circunscrita à sua vitória meramente.

s.d.

Da República (1910 - 1935) . Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Mourão. Introdução e organização de Joel Serrão). Lisboa: Ática, 1979.

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