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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Gnomos do luar que faz selvas

Gnomos do luar que faz selvas

As florestas sossegadas,

Que sois silêncios nas relvas,

E em almas abandonadas

Fazeis sombras enganadas,

Que sempre se a gente olha

Acabastes de passar

E só um tremor de folha

Que o vento pode explicar

Fala de vós sem falar,

Levai-me no vosso rastro,

Que em minha alma quero ser

Como vosso corpo, um astro

Que só brilha quando houver

Quem o suponha sem ver.

Ah, sentir tudo de todos os feitios!

Não ter alma, não ter

Só diversos modos —

Seja eu leitura variada

Para mim mesmo!

Assim eu que canto ou choro

Quero velar-me e partir.

Lembrando o que não memoro,

Alguém me saiba sentir,

Mas ninguém me definir.

26-8-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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