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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Do eterno erro na eterna viagem,

Do eterno erro na eterna viagem,

O mais que saibas na alma que ousa,

É sempre nome, sempre linguagem

O véu e a capa de uma outra cousa.

Nem que conheças de frente o Deus,

Nem que o eterno te dê a mão,

Vês a verdade, rompes os véus,

Tens mais caminho que a solidão.

Todos os astros, inda os que brilham

No céu sem fundo do mundo interno,

São só caminhos que falsos trilham

Eternos passos do erro eterno.

Volta a meu seio, que não conhece

Enigma ou deuses porque os não vê,

Volta a meus braços, neles esquece

Isso que tudo só finge que é.

Meus ramos tecem doceis de sono,

Meus frutos ornam o arvoredo;

Vem a meus braços em abandono

Todos os Deuses fazem só medo.

Não há verdade que consigamos,

Ao Deus dos deuses nunca hás-de ver...

Doceis de sono tecem meus ramos.

Dorme sob eles como qualquer.

20-11-33

Fausto - Tragédia Subjectiva. Fernando Pessoa. (Texto estabelecido por Teresa Sobral Cunha. Prefácio de Eduardo Lourenço.) Lisboa: Presença, 1988.

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1ª versão inc.: “Primeiro Fausto” in Poemas Dramáticos. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de Eduardo Freitas da Costa.) Lisboa: Ática, 1952 (imp.1966, p.80).