Proj-logo

Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
pdf
Fernando Pessoa

Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa

Cai chuva. É noite. Uma pequena brisa

        Substitui o calor.

P'ra ser feliz tanta coisa é precisa.

        Este luzir é melhor.

O que é a vida? O espaço é alguém para mim.

        Sonhando sou eu só.

A luzir, em quem não tem fim

        E, sem querer, tem dó.

Extensa, leve, inútil passageira,

        Ao roçar por mim traz

Uma ilusão de sonho, em cuja esteira

        A minha vida jaz.

Barco indelével pelo espaço da alma,

        Luz da candeia além

Da eterna ausência da ansiada calma,

        Final do inútil bem.

Que se quer, e, se veio, se desconhece

        Que, se for, seria

O tédio de o haver... E a chuva cresce

        Na noite agora fria

18-9-1920

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

 - 27.