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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

[Cartas a João Gaspar Simões - 4 Abr. 1931]

Apartado 147.

Lisboa, 4 de Abril de 1931.

Meu querido Gaspar Simões:

Muito obrigado pela sua carta de 2. Recebi, sim, a Presença, e achei o número muito bom. Apreciei muito o seu estudo sobre o Raul Brandão. Quanto à dispo­sição gráfica da minha colaboração, está perfeitamente bem: em que é que v. supunha que eu pudesse achar imperfeita?

Com muito prazer lhe enviarei colaboração para o número seguinte, e, como é o número de aniversário, e vocês querem naturalmente incluir o maior número pos­sível de colaboradores que o têm sido, enviarei colabo­ração minha e dos heterónimos todos. Escusado é dizer que cada uma será breve: pautar-nos-emos todos pela norma (em extensão) do Ricardo Reis. O mais duvidoso nestas coisas – como em tudo – é o Álvaro.

Deram-me muito prazer as notícias que me dá sobre o Hourcade. Ele tem sido amabilíssimo para mim, e gos­tava, ou de lhe escrever, ou que ele me escrevesse.

Dê-lhe v. a minha morada – isto é, o meu endereço postal – dizendo-lhe que me escreva directamente, pois terei nisso muito prazer; ou então dê-me a morada dele, para que eu lhe escreva.

Vejo pela sua nota preliminar à sua tradução do artigo do Hourcade no último número da Presença que ele tem já publicado artigos sobre Portugal, e um sobre mim. Gostaria de conhecer esses artigos. Basta que v. me indique onde vêm – revista ou jornal, e res­pectivo número ou data – e eu o obterei.

Peço-lhe, em todo o caso, o favor de escrever logo que possa ao Hourcade, dizendo-lhe nunca me mostra­ram nem o Carlos Queirós, nem qualquer outra pes­soa – traduções algumas de poemas meus. Não vejo o Carlos Queirós há muito tempo: é muito natural que ele me tenha procurado nos lugares do costume – onde tenho agora sido infrequentíssimo – e tenha desistido de me achar. O que eu não quero é que o Hourcade julgue que tomei conhecimento das traduções e lhe não disse nada, nem directa nem indirectamente. Em muitas coisas pertenço à seita dos adiistas, e sou autenticamente futurista no sentido de deixar tudo para amanhã. Nisto, porém, em que estava sendo devedor de um favor a alguém, não poderia demorar. Peço-lhe, pois, instantemente que, logo que possa, transmita ao Hourcade a notícia da minha ignorância das traduções, enviando-lhe, no mesmo tempo, os meus agradecimentos e as minhas lembranças afectuosas.

Abraça-o, com a amizade e a admiração de sempre, o

         muito seu,

               Fernando Pessoa .lçlçlçlç

P. S. – Apoquenta-me que v. vá ter a maçada de copiar a minha colaboração no Orpheu. Gostava de po­der enviar exemplares dessa revista, mas o facto é que não tenho senão os meus, e até desses não sei onde estão. Nem me posso oferecer para eu mesmo copiar — como seria justo — essa colaboração, pois estou num período — que durará, pelo menos, até ao fim do mês — em que não tenho tempo para nada.

4-4-1931

Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões. (Introdução, apêndice e notas do destinatário.) Lisboa: Europa-América, 1957 (2.ª ed. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1982).

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