TERCEIRO CORPO DAS PROFECIAS DE [ ... ] BANDARRA
TERCEIRO CORPO DAS PROFECIAS DE [...] BANDARRA
Em vós que haveis de ser quinto
Depois de morto o segundo,
Minhas profecias fundo
Co estas letras que aqui pinto.
AQI — Arma, Quies, Intellectus.
VOS — Vis, Otium, Scientia.
Var.: VOS.
a) Manuel I, quinto da Din. de Avis, vindo depois de D. João Segundo.
b) D. João Quinto, sucessor de D. Pedro Segundo.
c) Quinto Império, sucessor do Segundo. (Qual é este?)
II.
Inda o trono está por vir
Já vos vejo erguido cedro: Pouco vai de Pedro a Pedro
Se a rama o tronco medir.
a) Tantos eram os homens de valor (petra) no 1.º império português que de uns a outros pouca distância vai no tempo se os avaliarmos pelos resultados, pois na idade são vários.
b) [...]
c) Do fim da Igreja Católica ao seu [?], por assim dizer, [...] não há quebra real de continuidade, pois sempre dura qualquer coisa de fundamental.
a) Ainda está por vir o verdadeiro Império e já ele existe.
b) Ainda está por aparecer D. José, em cujo reino os Braganças atingem o máximo, já o auge, aqui dado, existe.
c) É longamente preparado este Império, e existe já em toda a sua essência necessário antes da sua efectuação definitiva.
III.
Fiz trovas de ferro, e prata,
Dignas de qualquer tesouro,
Hoje quanto faço é ouro
Que em vós, Senhor, se remata.
a) Ferro = Armas; Prata = Quies; Ouro = Inteligência ([...])
b) Ferro = profecias de pormenor prata = p. de [...] ouro = p. da realidade.
c) [...].
IV.
Não conto sapatarias
Que noutros tempos sonhei
O que agora contarei
São mais altas profecias.
Não faço, como em outros escritos anteriores, profecias de mero pormenor; estas são de coisas fundamentais.
V.
A giesta não se torce,
Muito amarga o sargaço:
Tudo quanto agora faço
São bocados de erva doce.
VI.
Faço trovas mui inteiras,
Versos muito bem medidos,
Que hão de vir a ser cumpridos
Lá nas eras derradeiras.
VII.
Eu componho, mas não ponho
As letrinhas no papel,
Que o devoto Gabriel
Vai riscando, quanto eu sonho.
Sonho Primeiro
VIII.
Vejo, mas não sei se vejo;
O certo é que me cheira
Que me vem honrar à beira
Um Grande do pé do Tejo.
(1) [...]
(2) António Vieira
(3) [...]
IX.
Formas, cabos e sovelas
Lavradinhas com primor
Mandareis abrir, Senhor,
Muitos folgarão de vê las.
(1) (literal)
(2) Interpretação conforme o que se pensava dele
(1) (literal)
(2) Muito bem escrito
(3) Muito bem interpretado.
Mas ai! que já vejo vir
O Presbítero maior
Arriscar todo o primor
Que outra vez há de surgir.
Var.: “a riscar”.
(1) Cardeal [...]
(2) M[arquês] de Pombal
(3) [...]
Sonho Segundo
XI.
Augurai, gentes vindouras,
Que o Rei, que daqui há de ir,
Vos há de tornar a vir
Passadas trinta tesouras.
(a) II ン 31 = 62; 1578 + 62 = 1640 [Independência]
(b) X ン 31 = 310; 1578 + 310 = 1888 [Grandeza]
(c) XX ン 31 = 620; 1578 + 620 = 2198 [Império]
O Pastorzinho na serra
Grita que tenham cuidado,
Que se vai perdendo o gado
Por mais que gritando berra.
XIII.
Desamparar o cortiço
Uma abelha mestra vejo;
As outras com muito pejo
Não têm asas para isso.
(a) [...]
(b) [...]
XIV.
Irão tempos de lazeiras
Virão tempos de farturas;
Os frades terão tristuras
Por acudirem as freiras.
XV.
Este sonho que sonhei
É verdade muito certa,
Que lá da Ilha encoberta
Vos há de vir este Rei.
Sonho Terceiro
XVI.
Sonhei que estava sonhando,
Que passados cem Janeiros
Os Portugueses primeiros
Se levantarão em bando.
100 janeiros depois do que segue
(a) 1640 + 101 = 1741
(b) 1811 + 101 = 1912
(c) [...]
XVII.
Ergue se a águia Imperial
Com os seus filhos ao rabo;
E com as unhas no cabo
Faz o ninho em Portugal.
Vai se embora a á[guia] i[mperial] levando as suas consequências [?] materiais mas deixando as consequências [?] espirituais.
(a) Filipe IV da Espanha (ignorância e depressão)
(b) Napoleão (perversão)
XVIII.
Põe um A pernas acima
Tira lhe a risca do meio,
E por detrás lha arrima,
Saberás quem te nomeio.
(a) IV = Filipe IV
(b) N = Napoleão
(c) IV = JU = Ju(deus)?
XIX.
Tudo tenho na moleira.
O passado e o futuro.
E quem for homem maduro
Há de me dar fé inteira.
maduro para interpretar.
XX.
Vejo sem abrir os olhos
Tanto ao longe como ao perto;
Virá do mundo encoberto
Quem mate da águia os polhos.
(a) M. de Pombal (= Sebastião)
(b) [...]
Sonho Quarto
XXI.
Lá para as bandas do Norte
Vejo como por peneira
Levantar uma poeira
Que nos ameaça a morte.
XXII.
Vosso grande capitão,
Ó povo errado e perverso,
Já caminha com o erço,
E vós dormindo no chão.
XXIII.
Na era que eu nomear
Terá fim a heresia;
Verás certa a profecia,
Se bem souberes contar.
XXIV.
Põe três tesouras abertas,
Diante um linhol direito,
Contarás seis vezes cinco,
E mais um, vai satisfeito.
31+ 31= 62 (1578 + 62 = 1640)
31 = 341 (1578 + 341 = 1919)
XXV.
Muito rijo bate o vento
Na parede da Igreja;
Alguém caída a deseja,
No levantar vai o tento.
XXVI .
Mas ai! do calçado a obra
Logo requer o solário;
Porém não há muita sobra
Se não dobra o campanário.
Sonho Quinto
XXVII.
Vejo, vejo, dizer vejo,
Andar a terra ao redor;
E o borborinho sem dor
Resolve um e outro sexo.
Descreve o B[andarra] as épocas em que Portugal terá o Império.
XXVIII.
Rugia a porca do sino,
O sino não badalava,
A grimpa se revirava,
E o sino andava a pino.
XXIX.
Meto a sovela nas viras,
E vejo pelo buraco
Os ossos de Pêro Jaco
No penedo das mentiras.
XXX.
Que belamente que soam
As Profecias direitas!
Depois que forem perfeitas
Verão que a terra povoam.
XXXI .
Doutos e sandeus conhecem
Pelo volver das estrelas
Puras verdades mais belas
Que inda os Judeus não merecem.
Sonho Sexto
XXXII.
Quando o sonho é verdadeiro
Dá se uma luz muito clara
Sonho agora, que uma vara
Vai dando luz a um outeiro.
Var.: lei
(1) o castigo
(2) cajado do pastor
(3) ceptro
a vara mágica
XXXIII.
O outeiro é Portugal
E a vara castelhana
Da minha pobre choupana
Vejo esta vara Real.
(1) Domínio espanhol
(2) [...]
(3) Império na Europa
(não “Castela” ) — está ao Oriente?
O ceptro
XXXIV.
Dará fruto em tudo santo,
Ninguém ousará negá-lo,
O choro será regalo
E será gostoso o pranto.
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
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