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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

TERCEIRO CORPO DAS PROFECIAS DE [ ... ] BANDARRA

TERCEIRO CORPO DAS PROFECIAS DE [...] BANDARRA

Em vós que haveis de ser quinto

Depois de morto o segundo,

Minhas profecias fundo

Co estas letras que aqui pinto.

AQI — Arma, Quies, Intellectus.

VOS — Vis, Otium, Scientia.

Var.: VOS.

a) Manuel I, quinto da Din. de Avis, vindo depois de D. João Segundo.

b) D. João Quinto, sucessor de D. Pedro Segundo.

c) Quinto Império, sucessor do Segundo. (Qual é este?)

II.

Inda o trono está por vir

Já vos vejo erguido cedro: Pouco vai de Pedro a Pedro

Se a rama o tronco medir.

a) Tantos eram os homens de valor (petra) no 1.º império português que de uns a outros pouca distância vai no tempo se os avaliarmos pelos resultados, pois na idade são vários.

b) [...]

c) Do fim da Igreja Católica ao seu [?], por assim dizer, [...] não há quebra real de continuidade, pois sempre dura qualquer coisa de fundamental.

a) Ainda está por vir o verdadeiro Império e já ele existe.

b) Ainda está por aparecer D. José, em cujo reino os Braganças atingem o máximo, já o auge, aqui dado, existe.

c) É longamente preparado este Império, e existe já em toda a sua essência necessário antes da sua efectuação definitiva.

III.

Fiz trovas de ferro, e prata,

Dignas de qualquer tesouro,

Hoje quanto faço é ouro

Que em vós, Senhor, se remata.

a) Ferro = Armas; Prata = Quies; Ouro = Inteligência ([...])

b) Ferro = profecias de pormenor prata = p. de [...] ouro =  p. da realidade.

c) [...].

IV.

Não conto sapatarias

Que noutros tempos sonhei

O que agora contarei

São mais altas profecias.

Não faço, como em outros escritos anteriores, profecias de mero pormenor; estas são de coisas fundamentais.

V.

A giesta não se torce,

Muito amarga o sargaço:

Tudo quanto agora faço

São bocados de erva doce.

VI.

Faço trovas mui inteiras,

Versos muito bem medidos,

Que hão de vir a ser cumpridos

Lá nas eras derradeiras.

VII.

Eu componho, mas não ponho

As letrinhas no papel,

Que o devoto Gabriel

Vai riscando, quanto eu sonho.

Sonho Primeiro

VIII.

Vejo, mas não sei se vejo;

O certo é que me cheira

Que me vem honrar à beira

Um Grande do pé do Tejo.

(1) [...]

(2) António Vieira

(3) [...]

IX.

Formas, cabos e sovelas

Lavradinhas com primor

Mandareis abrir, Senhor,

Muitos folgarão de vê las.

(1) (literal)

(2) Interpretação conforme o que se pensava dele

(1) (literal)

(2) Muito bem escrito

(3) Muito bem interpretado.

Mas ai! que já vejo vir

O Presbítero maior

Arriscar todo o primor

Que outra vez há de surgir.

Var.: “a riscar”.

(1) Cardeal [...]

(2) M[arquês] de Pombal

(3) [...]

Sonho Segundo

XI.

Augurai, gentes vindouras,

Que o Rei, que daqui há de ir,

Vos há de tornar a vir

Passadas trinta tesouras.

(a) II ン 31 = 62; 1578 + 62 = 1640 [Independência]

(b) X ン 31 = 310; 1578 + 310 = 1888 [Grandeza]

(c) XX ン 31 = 620; 1578 + 620 = 2198 [Império]

O Pastorzinho na serra

Grita que tenham cuidado,

Que se vai perdendo o gado

Por mais que gritando berra.

XIII.

Desamparar o cortiço

Uma abelha mestra vejo;

As outras com muito pejo

Não têm asas para isso.

(a) [...]

(b) [...]

XIV.

Irão tempos de lazeiras

Virão tempos de farturas;

Os frades terão tristuras

Por acudirem as freiras.

XV.

Este sonho que sonhei

É verdade muito certa,

Que lá da Ilha encoberta

Vos há de vir este Rei.

Sonho Terceiro

XVI.

Sonhei que estava sonhando,

Que passados cem Janeiros

Os Portugueses primeiros

Se levantarão em bando.

100 janeiros depois do que segue

(a) 1640 + 101 = 1741

(b) 1811 + 101 = 1912

(c) [...]

XVII.

Ergue se a águia Imperial

Com os seus filhos ao rabo;

E com as unhas no cabo

Faz o ninho em Portugal.

Vai se embora a á[guia] i[mperial] levando as suas consequências [?] materiais mas deixando as consequências [?] espirituais.

(a) Filipe IV da Espanha (ignorância e depressão)

(b) Napoleão (perversão)

XVIII.

Põe um A pernas acima

Tira lhe a risca do meio,

E por detrás lha arrima,

Saberás quem te nomeio.

(a) IV = Filipe IV

(b) N = Napoleão

(c) IV = JU = Ju(deus)?

XIX.

Tudo tenho na moleira.

O passado e o futuro.

E quem for homem maduro

Há de me dar fé inteira.

maduro para interpretar.

 XX.

Vejo sem abrir os olhos

Tanto ao longe como ao perto;

Virá do mundo encoberto

Quem mate da águia os polhos.

(a) M. de Pombal (= Sebastião)

(b) [...]

Sonho Quarto

XXI.

Lá para as bandas do Norte

Vejo como por peneira

Levantar uma poeira

Que nos ameaça a morte.

XXII.

Vosso grande capitão,

Ó povo errado e perverso,

Já caminha com o erço,

E vós dormindo no chão.

XXIII.

Na era que eu nomear

Terá fim a heresia;

Verás certa a profecia,

Se bem souberes contar.

XXIV.

Põe três tesouras abertas,

Diante um linhol direito,

Contarás seis vezes cinco,

E mais um, vai satisfeito.

31+ 31= 62 (1578 + 62 = 1640)

31 = 341 (1578 + 341 = 1919)

XXV.

Muito rijo bate o vento

Na parede da Igreja;

Alguém caída a deseja,

No levantar vai o tento.

XXVI .

Mas ai! do calçado a obra

Logo requer o solário;

Porém não há muita sobra

Se não dobra o campanário.

Sonho Quinto

XXVII.

Vejo, vejo, dizer vejo,

Andar a terra ao redor;

E o borborinho sem dor

Resolve um e outro sexo.

Descreve o B[andarra] as épocas em que Portugal terá o Império.

XXVIII.

Rugia a porca do sino,

O sino não badalava,

A grimpa se revirava,

E o sino andava a pino.

XXIX.

Meto a sovela nas viras,

E vejo pelo buraco

Os ossos de Pêro Jaco

No penedo das mentiras.

XXX.

Que belamente que soam

As Profecias direitas!

Depois que forem perfeitas

Verão que a terra povoam.

 XXXI .

Doutos e sandeus conhecem

Pelo volver das estrelas

Puras verdades mais belas

Que inda os Judeus não merecem.

Sonho Sexto

XXXII.

Quando o sonho é verdadeiro

Dá se uma luz muito clara

Sonho agora, que uma vara

Vai dando luz a um outeiro.

Var.: lei

(1) o castigo

(2) cajado do pastor

(3) ceptro

a vara mágica

XXXIII.

O outeiro é Portugal

E a vara castelhana

Da minha pobre choupana

Vejo esta vara Real.

(1) Domínio espanhol

(2) [...]

(3) Império na Europa

(não “Castela” ) — está ao Oriente?

O ceptro

XXXIV.

Dará fruto em tudo santo,

Ninguém ousará negá-lo,

O choro será regalo

E será gostoso o pranto.

s.d.

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.

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