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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

Tão vago é o vento que parece

Tão vago é o vento que parece

Que as folhas fremem só por vida.

Dorme um calar em que se esquece

Em que é que o campo nos convida?

Não sei. Anónimo de mim,

Não posso erguer uma intenção

Do saco em que me sinto assim,

Caído nesse verde chão.

Com a alma feita em animal,

A quem o sol é um lombo quente.

Aceito como a brisa real

A sensação de ser quem sente.

E os olhos que me pesam baixo

Olham pela alma o campo e a estrada.

No chão um fósforo é o que acho.

Nas sensações não acho nada.

31-8-1930

Poesias Inéditas (1919-1930). Fernando Pessoa. (Nota prévia de Vitorino Nemésio e notas de Jorge Nemésio.) Lisboa: Ática, 1956 (imp. 1990).

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