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Arquivo Pessoa

OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

De Apolo o carro rodou pra fora

De Apolo o carro rodou pra fora

Da vista. A poeira que levantara

Ficou enchendo de leve névoa

                O horizonte;

A flauta calma de Pã, descendo

Seu tom agudo no ar pausado,

Deus mais tristezas ao moribundo

                Dia suave.

Cálida e loura, núbil e triste,

Tu, mondadeira dos prados quentes,

Ficas ouvindo, com os teus passos

                Mais arrastados,

A flauta antiga do deus durando

Com o ar que cresce pra vento leve,

E sei que pensas na deusa clara

                Nada dos mares,

E que vão ondas lá muito adentro

Do que o teu seio sente cansado

Enquanto a flauta sorrindo chora

                Palidamente.

12-6-1914

Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994).

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