Assim temos que no Quinto Império haverá a reunião das duas forças...
Bandarra
Assim temos que no Quinto Império haverá a reunião das duas forças separadas há muito, mas de há muito aproximando-se: o lado esquerdo da sabedoria — ou seja a ciência, o raciocínio, a especulação intelectual, e o seu lado direito — ou seja o conhecimento oculto, a intuição, a especulação mística e cabalística. A aliança de D. Sebastião, Imperador do Mundo, e do Papa Angélico figura esta íntima aliança, esta fusão do material e do espiritual, talvez sem separação. E o próprio Segundo Advento, ou nova encarnação de mesmo Adepto em que outrora Deus projectou o seu Símbolo, ou Filho, não faz senão figurar de outro modo esta mesma aliança suprema.
Não é pois para uma absorção mística que avançamos, sendo para a conjugação clara dos dois poderes da Forca, dos dois lados do Conhecimento. Far-se-á a aparente conquista da inteligência material (?) pela espiritual e da espiritual pela material (?).
De aí o ser o Império Português ao mesmo tempo um império de cultura e o mesmo império universal, que é outra coisa.
A “paz” que o Bandarra diz que haverá em todo o Mundo será a paz de não haver diferenças religiosas, a de “um só deus será conhecido”, como ele diz ainda.
E isto tudo durará o tempo que tiver que durar, porque nada há perene ou eterno, e o mesmo Deus que criou este Mundo não: é porventura mais que um de muitos “deuses”, criador de um de muitos “universos”, misteriosamente coexistentes, todos eles porventura descritíveis como infinitos e eternos. O mistério — di-lo mais alto ocultismo — é maior não só que o Universo, mas que o mesmo Deus.
Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.
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