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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Fernando Pessoa

De todos os povos de Europa somos aquele em que é menor o ódio...

De todos os povos de Europa somos aquele em que é menor o ódio a outras raças ou a outras nações. É sabido de todos, e de muitos censurado, o pouco que nos afastamos das raças de cor diferente, quando [...].

O nosso antigo impulso imperial — embora o viciasse, como a todos os impulsos de domínio material, o egoísmo humano — pretendia, antes de mais nada, a descoberta de novas terras, e depois a conversão ao cristianismo das populações delas. É injusto supor-se que a ideia de conquista tivesse de princípio grande parte na nossa vida imperial.

Nunca tivemos uma ânsia verdadeira de conquista. Nossa posição geográfica, de uma parte, nossa pequenez, de outra, no-lo inibiam. Fruto destas condições mésicas, somos assim. O que de ódio nasceu em nós contra castelhanos, contra franceses, contra ingleses (contra alemães nunca verdadeiramente chegámos a ter ódio, tão pouco somos dados a isso), derivou de justas causas, de agressões, de perigos e de explorações de que temos sido vítimas.

( Verify ) Os índios da Índia inglesa dizem que são índios, os da Índia portuguesa que são portugueses. Nisto, que não provém de qualquer cálculo nosso, está a chave do nosso possível domínio futuro. Porque a essência do grande imperialismo é o converter os outros em nossa substância, o converter os outros em nós mesmos. Assim nos aumentamos, ao passo que o imperialismo de conquista só aumenta os nossos terrenos, e o de expansão o número de os imperialismos da Besta da cabala e de Apocalipse.

s.d.

Sobre Portugal - Introdução ao Problema Nacional. Fernando Pessoa (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução organizada por Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1979.

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