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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Alberto Caeiro

XXXVII - Como um grande borrão de fogo sujo

XXXVII

 

Como um grande borrão de fogo sujo

O sol-posto demora-se nas nuvens que ficam.

Vem um silvo vago de longe na tarde muito calma.

Deve ser dum comboio longínquo.

 

Neste momento vem-me uma vaga saudade

E um vago desejo plácido

Que aparece e desaparece.

 

Também às vezes, à flor dos ribeiros

Formam-se bolhas na água

Que nascem e se desmancham.

E não têm sentido nenhum

Salvo serem bolhas de água

Que nascem e se desmancham.

s.d.

“O Guardador de Rebanhos”. In Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (10ª ed. 1993).

 - 61.

“O Guardador de Rebanhos”. 1ª publ. in Athena, nº 4. Lisboa: Jan. 1925.