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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Álvaro de Campos

P-HÁ

P-HÁ

Hoje, que sinto nada a vontade, e não sei que dizer,

Hoje, que tenho a inteligência sem saber o que querer,

Quero escrever o meu epitáfio: Álvaro de Campos jaz

Aqui, o resto a Antologia grega traz...

E a que propósito vem este bocado de rimas?

Nada... Um amigo meu, chamado (suponho) Simas,

Perguntou-me na rua o que é que estava a fazer,

E escrevo estes versos assim em vez de lho não saber dizer.

É raro eu rimar, e é raro alguém rimar com juízo.

Mas às vezes rimar é preciso.

Meu coração faz pá como um saco de papel socado

Com força, cheio de sopro, contra a parede do lado.

E o transeunte, num sobressalto, volta-se de repente

E eu acabo este poema indeterminadamente.

2-12-1929

Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.

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