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OBRA ÉDITA · FACSIMILE · INFO
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Ricardo Reis

Seguro assento na coluna firme [ 2]

Seguro assento na coluna firme

        Dos versos em que fico.

Aquele agudo interno movimento

         Por quem os fiz pensados

Passa, e eu, outro já que o factor deles,

         Póstumo  substituo-me.

Chegada a hora, eu próprio serei todo

         Menos que essas palavras

E papel, ou papiro escrito e morto

        Será mais eu que eu mesmo.

A obra imortal excede o autor da obra;

        E é menos dono dela

Quem a fez do que o tempo em que perdura.

         Morre a obra a vida nossa.

Durar, sentir, só os altos deuses unem.

         Nós não somos inteiros.

Assim os deuses esta nossa regem

         Mortal e imortal  vida;

Assim o Fado rege que assim rejam.

         Mas se assim é, é assim.

29-1-1921

Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.

 - 1a.

1ª publ. in Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). Lisboa: Ática, 1946