Este, seu escasso campo ora lavrando, [2]
Este, seu escasso campo ora lavrando,
Ora, cansado, olhando-o com a vista
De quem a um filho olha
Passa alegre na vida.
Pouco lhe importa sob que Deus arrasta
A obra, louvores doutos ou néscios
São-lhe a mesma distância
De todos os seus dias...
Figura eterna longe das cidades,
Passa na vida sob a maior graça
Que os deuses nos concedem -
Que é não se nos mostrarem
Nas activas presenças encobertos
Com o céu e a terra e o riso das searas
Quais ricos disfarçados
Dando aos pobres sem glória…
Poemas de Ricardo Reis. Fernando Pessoa. (Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte.) Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1994.
- 31.1ª publ. in Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa. (Notas de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor). Lisboa: Ática, 1946