Os problemas ibéricos são três, no que respeita a problemas internos:
Os problemas ibéricos são três, no que respeita a problemas internos:
(1) A remodelação do estado espanhol, reavendo-se Gibraltar.
(2) A integração do estado português, pela reintegracão de Albuquerque e Olivença, e a anexação da Galiza.
(3) A aliança ibérica, como defesa do comum solo espiritual, invadido culturalmente pela França, e dividido territorialmente pela política da Inglaterra.
Já o problema da Galiza se não assemelha ao problema catalão. O incerto separatismo galego também não pode visar a independência da região, mas já pode visar, sem crime de lesa-Ibéria, a integração no estado português. Há tantas razões para a Galiza ser região espanhola, como para ser parte de Portugal (não digo “região portuguesa”, porque Portugal é uno). Integrada na Espanha, a Galiza segue uma continuidade histórica e não perde pé no valor civilizacional. Integrada em Portugal, fica parte do estado a que por natureza e raça pertence, e também não perde pé no valor civilizacional, porque passa a ser parte de outra nação europeia definida civilizacionalmente.
A Catalunha, porém, só tem que escolher entre as desvantagens menores da sua integração, como até aqui em Espanha, embora, porventura, com outras regalias, e as desvantagens maiores da sua independência absoluta. Ninguém na Ibéria lhe dá licença que escolha a terceira, a ignóbil hipótese, que seria a união com a França, a que parece secretamente visar parte da tendência catalanista.
Ultimatum e Páginas de Sociologia Política. Fernando Pessoa. (Recolha de textos de Maria Isabel Rocheta e Maria Paula Morão. Introdução e organização de Joel Serrão.) Lisboa: Ática, 1980.
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