Álvaro de Campos
CANÇÃO ABRUPTA
CANÇÃO ABRUPTA
O céu de todos os universos
Cobre em meu ser todo o verão...
Vai p'ra as profundas dos infernos
E deixa em paz meu coração!
Quê? Não me fica se te opões?
Pois leva-o, guarda-o, bem ou mal
Eu tenho muitos corações
É um privilégio intelectual
Madonna que vais comprar couves
Não te esqueças de me esquecer
O teu perfil dá-me trabalho
Quero (...)
Bem sei, o teu perfil persiste
Amo-te e é triste não poder
Deixar de amar-te sem estar triste...
Se és mulher que em verdade existe
Raios te parta! Vai morrer!
1-12-1928
Álvaro de Campos - Livro de Versos . Fernando Pessoa. (Edição crítica. Introdução, transcrição, organização e notas de Teresa Rita Lopes.) Lisboa: Estampa, 1993.
- 239.Ou Fernando Pessoa?